1. Home
  2. Artigos
  3. Geral
Geral

Euritrematose Bovina


Publicado em: 23/01/2007 08:35 | Categoria: Geral

 

Artigo

O levantamento das afecções durante o abate de animais de açougue, considerando também os aspectos higiênicos, sanitários e tecnológicos próprios desses procedimentos, sempre envolveu a preocupação epidemiológica da ocorrência de enfermidades em rebanhos ou populações animais. A imensa quantidade de informações obtidas dos abates diariamente realizados, fornecem dados que permitem a detecção e quantificação da ocorrência de enfermidades sub-clínicas, possibilitando a adoção de medidas profiláticas e corretivas, assim como a identificação de fatores de risco.

As espécies do gênero Eurytrema (LOSS, 1907),  chama a atenção pelos índices que são observados em pâncreas de bovinos abatidos em matadouros frigoríficos nos diversos estados brasileiros (BRANT, 1963; AZEVEDO, 2000; YAMAMURA, 2005).   São parasitas comuns de ductos pancreáticos, ocasionalmente ductos biliares e raramente intestino delgado de ruminantes, sendo descritos em bovinos, caprinos, ovinos, bubalinos, leporinos e camelídeos (MATTOS JR; VIANNA, 1987). A distribuição geográfica do Eurytrema spp. é ampla, ocorrendo na Europa, Rússia Oriental, Ásia e também na América do Sul (YAMAGUTI, 1975).

O ciclo biológico do Eurytrema sp. é heteroxeno, sendo o primeiro hospedeiro intermediário representado por espécies de um molusco do gênero Bradybaena  e o segundo, por espécies de um artrópode do gênero Conocephalus conhecido vulgarmente como “esperança”. Os ruminantes, hospedeiros definitivos, adquirem a infecção por ingestão acidental dos insetos com as pastagens, ou ingestão de metacercárias eliminadas pelos insetos sobre as pastagens. Esta particularidade do ciclo do Eurytrema sp. tem sido uma das dificuldades de controle de sua multiplicação uma vez que não se pode aplicar inseticidas onde residem os hospedeiros intermediários que são as pastagens e fontes de água para o gado (MATTOS JR; VIANNA, 1987).

As alterações clínicas dos animais infectados foram descritas por Correa et al, (1984) e consistem em: ligeira caquexia, debilidade, ausências de diarréia, anemia e alterações cardiorespiratórias. O Eurytrema sp. aloja-se primariamente no ducto pancreático, embora infecte o trato biliar simultaneamente, produzindo pancreatite intersticial e subseqüente obstrução ductal.

Em geral, os bovinos apresentam infecção sub-clínica e o diagnóstico laboratorial da euritrematose baseia-se em exames coproparasitológicos, sendo que muitas vezes o diagnóstico da euritrematose em bovinos é realizado somente após a morte dos animais (BELÉM et al, 1996).

A infecção crônica do pâncreas é uma das principais causas de condenação do pâncreas nas linhas de inspeção em alguns estados brasileiros. O artigo 192 do RIISPOA recomenda a condenação do pâncreas infectado por E. coelomaticum.

Vários pesquisadores comprovaram a ineficiência dos produtos anti-helmínticos usados para combater a euritrematose em bovinos (MATTOS JR; VIANNA, 1987; YAMAMURA, 1989; ARAÚJO; BELÉM; 1993). Essa informação vem ratificar os resultados negativos que se obtêm quando se tenta tratar os animais parasitados com os produtos atualmente disponíveis.

No período de junho de 2003 a maio de 2004, realizou-se um estudo  em 1.828 animais provindos da Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão - COMCAM, localizada no centro-oeste do Paraná, que foram abatidos no frigorífico Cristal de Campo Mourão - PR e apresentaram níveis variados de infecção para o Eurytrema sp.

Na tabela 1, os municípios que apresentaram menor freqüência de ocorrência foram: Quarto Centenário; 10%, (2/20), Terra Boa; 14,0%, (9/64), Moreira Sales; 15,5%, (16/103), Mamborê; 17,0%, (7/41). Os municípios com maior freqüência de ocorrência foram: Campina da Lagoa; 78,6%, (133/169), Peabirú; 82,1%, (23/28), Corumbataí do Sul; 86,9%, (100/115), Farol; 88,0%, (22/25) e Fênix 100%, (3/3).

Tabela 1 – Distribuição da euritrematose nos diversos municípios que compõe a região da COMCAM, localizada no centro-oeste do Paraná, obtidos no período de junho de 2003 a maio de 2004, abatidos no frigorífico Cristal  de Campo Mourão-PR.

MUNICÍPIOS

NÚMERO DE ANIMAIS

FREQÜÊNCIA DE OCORRÊNCIA %

Araruna

54

33,3 (18/54)

Barbosa Ferraz

53

75,4 (40/53)

Campina da Lagoa

169

78,6 (133/169)

Campo Mourão

125

49,6 (62/125)

Corumbataí do Sul

115

86,9 (100/115)

Goioerê

225

33,3 (75/225)

Iretama

147

70,7 (104/147)

Janiópolis

187

17,1 (32/187)

Luiziana

125

58,4 (73/125)

Mamborê

41

17,0 (7/41)

Moreira Sales

103

15,5 (16/103)

Peabirú

28

82,1 (23/28)

Quarto Centenário

20

10,0 (2/20)

Roncador

246

40,2 (99/246)

Altamira do PR

59

38,9 (23/59)

Ubiratã

39

51,3 (20/39)

Farol

25

88,0 (22/25)

Fênix

3

100,0 (3/3)

Terra Boa

64

14,0 (9/64)

TOTAL

1.828

 


Na tabela 2, pode-se observar os resultados dos estudos da freqüência de ocorrência mensal, a média de idade  dos animais parasitados e não parasitados, no período de junho de 2003 a maio de 2004, procedentes da região da COMCAM, no centro-oeste do estado do Paraná. Neste período foi encontrado uma freqüência de ocorrência de 47,8% (874/1.828) de animais parasitados por Eurytrema sp.

Tabela 2 – Freqüência de ocorrência mensal e média de idade de animais parasitados e não parasitados  em  relação à presença de Eurytrema sp. no pâncreas de bovinos abatidos no frigorífico Cristal  de Campo Mourão – Paraná, no período de junho de 2003 a maio de 2004.

MÊSNÚMERO

FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA

ANIMAIS

 %

PARASITADOS

NÃO PARASITADOS

JUNHO178

51,6 (92/178)

4,50 ± 1,52

3,93 ± 2,15

JULHO176

42,0 (74/176)

4,40 ± 1,16

3,63 ± 0,95

AGOSTO
Voltar
Top
2024 Conselho Regional de Medicina Veterinária CRMV-PR
Plenus Sistemas