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Conforto Térmico e a Produção de Bovinos nos Trópicos


Publicado em: 19/03/2006 21:00 | Categoria: Geral

 

Artigo


Todavia, os agentes estressores mais preocupantes são os elementos climáticos, pois, além de atuarem de forma direta ou indireta, são incontroláveis.

Atuação de forma direta: causando alterações no comportamento dos animais, alterando o seu comportamento ingestivo, reprodutivo, social, entre outros, causando alterações no sistema imunológico, fazendo com que estes fiquem mais susceptíveis às doenças e, por último, alterando sua fisiologia e sua capacidade de aproveitamento de alimentos.

Atuação de forma indireta: sobre o solo, provocando perdas da qualidade deste através da erosão e outros fatores, sobre as pastagens, diminuindo a disponibilidade de alimento, em função da falta de precipitação (seca).

Entretanto, o animal está sempre produzindo calor através do metabolismo basal, calor de fermentação, motilidade do trato digestório, secreção enzimática e calor de produção (ganho de peso, produção de leite,...).

Os animais ruminantes são homeotérmicos, ou seja, mantêm sua temperatura corporal constante, ou com variações mínimas. Desta forma, a sua eficiência produtiva está associada ao conforto térmico, que é um intervalo de temperatura ambiente, umidade relativa do ar, radiação solar e velocidade do vento em que o animal pode desempenhar todo o seu potencial produtivo. Todavia, quando a temperatura fica acima ou abaixo desta zona de conforto térmico, os animais apresentam prejuízos produtivos.

Assim, bovinos expostos a fontes de calor, necessitam dissipar o excedente para manter a temperatura corporal, então utilizam os meios físicos de troca de calor, como: condução, radiação, convecção e evaporação. Porém, se estes não são suficientes, os animais apresentam reações biológicas como: aumento do ritmo respiratório (Figura 1) e da ingestão de água, mas se a temperatura interna continuar se elevando, ocorrerá diminuição do consumo de alimento, crescimento corporal, produção de leite e alteração da composição do leite e dos parâmetros reprodutivos.

Quando a temperatura do ar baixa, o animal aumenta o consumo e quando esta se eleva, ocorre uma redução na ingestão de alimento. Porém, esta redução aparece em diferentes temperaturas, sendo que para animais zebuínos isto ocorre em temperaturas superiores a 32 – 350C, enquanto para bovinos europeus em temperaturas acima de 260C, ou seja, bem mais baixas que as anteriores. Lembrando sempre que a temperatura do ar pode ser potencializada por outros elementos climáticos, como: radiação solar; umidade relativa do ar e velocidade do vento.

Uma das formas de reduzir a agressão do ambiente sobre o animal é a ingestão de água, conforme a temperatura ambiente sobe o consumo de água aumenta, como pode ser observado na Tabela 1, abaixo.

Tabela 1. Necessidade de água para bovinos de corte em diferentes condições térmicas:

Ambiente Térmico

Necessidade de Água

Acima de 350C

250C a 350C

150C a 250C

-50C a 150C

Abaixo de -50C

08 a 15 kg de água por 1 kg de matéria seca ingerida

04 a 10 kg de água por 1 kg de matéria seca ingerida

03 a 05 kg de água por 1 kg de matéria seca ingerida

02 a 04 kg de água por 1 kg de matéria seca ingerida

02 a 03 kg de água por 1 kg de matéria seca ingerida


Fonte: adaptado do NRC de bovino de corte.

Pesquisadores demonstraram, com animais de clima temperado, que quando a temperatura do ar subiu de 25 para 350C, ocorreu redução na ingestão de alimentos da ordem de 03 a 10% e aumento de consumo de água de 4 kg para 10 kg por 01 kg de matéria seca ingerida.

Da mesma forma, a temperatura prejudica a atividade reprodutiva, tanto em machos como em fêmeas. Pois, nos machos causa redução do tamanho testicular, redução na produção espermática, aumento de defeitos nos espermatozóides, entre outros fatores. Ao passo que, nas fêmeas causa retardo na puberdade, anestro, aborto e aumento na mortalidade peri-natal.

Com relação ao crescimento, animais em ambientes quentes podem apresentar menores pesos ao nascer. Todavia, este efeito vai depender da raça e do tempo da exposição da fêmea prenhe à temperatura elevada. A temperatura ambiente atua não só em animais adultos ou jovens, mas também no desenvolvimento embrionário. Durante a gestação, a taxa de crescimento do embrião pode ser reduzida proporcionalmente a duração do estresse pelo calor. O conhecimento desta informação é de grande importância, visto que o crescimento está altamente correlacionado com o peso a desmama e peso à cobertura, parâmetros zootécnicos importantes na seleção animal. Assim como, o crescimento pós-natal também pode ser influenciado pelas condições ambientais. Já que, este é o resultado das características genéticas do animal e sua interação com o ambiente, bem como, às condições impostas a sua mãe. Da mesma forma, as altas temperaturas do meio podem prejudicar o crescimento dos animais após a desmama, em diferentes graus dependendo da umidade relativa, da raça, idade, estado e plano nutricional.

Por isso, ao buscar-se eficiência produtiva em ruminantes nas regiões tropicais, há a necessidade de preocupações com as condições ambientais as quais estes animais serão expostos.


Jair de Araújo Marques CRMV-PR 1951
É médico veterinário, pesquisador pelo convênio Emater-PR/Iapar e professor de Criação Animal e Etologia do Integrado Colégio e Faculdades de Campo Mourão.


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