Geral
Os efeitos da estratificação térmica da água na piscicultura
Artigo
Essas variações são decorrentes da interação.
Propriedades físico-químicas da molécula de Água:
· Calor Específico - quantidade de calor necessário para elevar em um grau centígrado, um grama de água. Por definição corresponde à uma caloria (1,0 cal), este valor é considerado alto;
· Calor de vaporização – a água possui um alto valor para esta característica, sendo que a 10oC é de 540 cal/g.
· Viscosidade – capacidade de oferecer resistência ao movimento. Com 30°C a água tem a metade da viscosidade que à cinco graus centígrados. Portanto a viscosidade diminui com a temperatura;
· Densidade – a água apresenta densidade variável, de acordo com as condições do meio, a maior densidade d’água é atingida a zero grau centígrado (daí o porquê da pedra de gelo flutuar na água em estado líquido).
A água, por suas peculiares características líquido-sólidas, torna um ambiente estratificável que influencia sobremaneira as dinâmicas químicas e biológicas dos corpos d’água (no nosso caso tanques). Entretanto, comparando-a com o meio aéreo, apresenta-se como um meio temperado, onde as flutuações extremas de suas características e temperatura se encontram mais amortizadas que no meio aéreo.
Através da condução, a radiação incidente na água é transformada em energia calorífica e nela se propaga, de molécula para molécula. Este processo de absorção de energia térmica é mais intenso quanto mais se aproxima da superfície d’água, principalmente até um metro de profundidade, dessa forma, na ausência de fatores que provoquem a movimentação (turbulência) d’água (através do vento do funcionamento de aeradores, infusores de ar, motores, etc) ocorre estratificação da coluna d’água.
Essas diferenças térmicas observadas nestas camadas fazem com que hajam diferentes valores de densidade em cada uma delas, o que impede que ocorra a mistura d’água em toda a coluna, dessa forma, na ausência de fatores que provoquem turbulência na água, não haverá distribuição uniforme de calor. Quando o ambiente aquático apresenta-se estratificado termicamente, normalmente apresenta-se estratificado para quase todos os outros fatores físicos e químicos, com efeitos sobre as condições biológicas do ambiente, devido à grande inter-relação entre todos estes fatores. Este fenômeno é muito mais freqüente e com maiores conseqüências em regiões tropicais, devido às maiores temperaturas observadas, pois os limites entre as camadas tornam-se, como já ditas barreiras físicas, o que pode influenciar na qualidade d’água nas diferentes camadas, um exemplo é quanto a distribuição espacial dos gases no ambiente aquático.
Em um ambiente aquático estratificado, a concentração de gases e sais, como O2, CO2 PO43- apresenta comportamento diferenciado em cada camada. Neste tipo de ambiente, o extrato superior é rico em O2, favorecendo a permanência de peixes. Entretanto, quanto à produtividade primária (fitoplâncton) não se apresenta favorável devido às baixas concentrações de CO2 e PO43-, trazendo conseqüências na produção de zooplâncton na coluna de água, devido a que seu substrato (fitoplâncton) encontra melhores condições no estrato inferior do tanque, porém este estrato não tem disponibilidade de luz, o que é fundamental para a fotossíntese. De maneira geral, a distribuição e disponibilidade de gases e sais na coluna d’água afetam diretamente a distribuição e a sobrevivência dos organismos aquáticos. Assim, é valido pensar que a estratificação térmica em tanques de piscicultura não é uma característica desejável, visto que suas implicações biológicas, principalmente quanto ao aspecto da distribuição de O2 na coluna d’água que em situações de alta demanda biológica, pode tornar-se limitante para o bom desenvolvimento ou até para a sobrevivência dos peixes. Daí a importância do uso, quando necessário, de aeradores, que além de atuarem como oxigenadores, ainda desempenham papel importante na desestratificação dos ambientes aquáticos.
REFERÊNCIAS
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Por Ricardo Pereira Ribeiro, conselheiro e membro da Comissão Editorial.
Zootecnista, Ribeiro é doutor em Piscicultura e professor da UEM.