Geral
Posse Responsável de Animais Domésticos
Artigo
Bem-Estar Animal
A definição de “Bem-Estar Animal” envolve ampla análise dos contextos em que se encerra a questão animal, mas, de modo geral, pode ser definido como o estado de um animal durante suas tentativas de se ajustar ao meio ambiente que ora se apresenta.
Independentemente da espécie, se cão ou gato, ou mesmo outras, todas possuem mecanismos adaptativos, contudo, esses mecanismos estão direcionados basicamente à vida natural que, por sua vez, podem ser, ou não, úteis às novas condições a que submetemos os animais, em particular à vida doméstica.
É preciso ressaltar que alguns desses animais estão altamente adaptados a essa situação, outros menos, sendo o contraposto daqueles plenamente domesticados os denominados ferais, ou asselvajados. Esses últimos vivem situações muito próximas do que poderíamos denominar vida selvagem, existindo simultaneamente uma ampla gama de variações entre os extremos. Portanto, quando nos propomos a analisar as condições de vida desses animais é preciso refletir sobre a enorme variação de possibilidades.
Um dos mais importantes problemas envolvendo as espécies domésticas (de companhia) e Bem-Estar Animal refere-se ao grande número de abandono desses animais. Abandonos esses que podem acumular-se em determinados locais públicos ou, então, através de pessoas que, por vários motivos, recolhem esses animais em grande número. E, quanto às condições sanitárias desses animais, como sua manutenção, são questionáveis, sobre vários aspectos, dentre eles o ético. Cuidar desses animais (em números sempre crescentes) é inviável e como respostas mais freqüentes temos a castração, a adoção ou a eutanásia.
As razões pelas quais se abandonam animais são inúmeras, vão desde justificativas alérgicas, mudanças de residências, reprodução não programada etc. Contudo, o principal problema não é abordado quando, equivocadamente, se opta por essa alternativa: o abandono.
O Abandono e possíveis conseqüências advindas da desinformação
O abandono de animais é fato relativamente comum em determinadas localidades. Inclusive com conceitos populares, por exemplo, para o gato, de que esse animal pode sobreviver ingerindo pequenos animais, lixo, restos de alimentos etc. Uma parcela dos animais abandonados realmente sobrevive às custas de muitas mortes e um estado de saúde sofrível. Esse estado de higidez, depauperação, remete os animais a uma espécie de condição: ‘bomba relógio’, devido à possibilidade de inúmeras doenças poderem se instalar nessa população e dentre essas temos várias zoonoses: leptospirose, leishmaniose etc., mas especialmente a raiva nos preocupa.
Quando uma pessoa (despretensiosamente) abandona um gato, ou cão, numa via pública, imaginando que sobreviverá, além de uma atitude equivocada a respeito do destino desse animal está, simultaneamente, colocando em sério risco a comunidade humana local. Apenas como exemplo, gatos são caçadores contumazes, e dentre suas inúmeras presas podemos ter morcegos, que sabidamente podem veicular o vírus da raiva, e esse mesmo gato – faminto – pode, posteriormente, envolver-se em disputas físicas, disseminando essa virose, quando agride outros gatos. Ou seja, a ação do abandono poderá ter conseqüências muito mais sérias do que apenas a morte do animal abandonado.
Ainda, o abandono, além de manifestar pouca preocupação com a vida, seja ela de um cão ou gato, pode ser o primeiro passo para o desenvolvimento de algo mais amplo, a crueldade com animais. O abuso e/ou crueldade com animais é um aspecto social não apenas relevante no aspecto médico-veterinário, mas evidências dessas condutas (preliminares) sinalizam a possibilidade de manifestação de outros tipos de abusos, como aqueles familiares e outras condutas anti-sociais humanas.
Parcerias como alternativa educativa no combate do abandono de animais
O projeto sobre posse responsável de animais domésticos “Meu Amigo Bicho nas Escolas” encontra-se há um ano em andamento na cidade de Ribeirão Preto, SP, apoiado e desenvolvido através da cooperação do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais, Centro de Controle de Zoonoses, Secretaria Municipal de Educação, Centro Universitário Barão de Mauá – através de seu Núcleo de Apoio Institucional (NAI), e também com o apoio da iniciativa privada: Salvet/Bayer, VetPlan.
Até o momento, 863 crianças e adolescentes (com idade entre 4 e 14 anos) da rede de ensino municipal foram abordadas através de aula e atividades interativas, apresentadas por estudantes do Curso de Medicina Veterinária, onde temas sobre a posse (responsável) de animais de companhia (cães e gatos) foram discutidos. Os objetivos do trabalho são minimizar o número de animais errantes na cidade e, conseqüentemente de abandonos, ataques caninos, a probabilidade de casos de zoonoses, casos de atropelamentos de animais e possíveis acidentes automobilísticos. Fundamentalmente o projeto vem desenvolvendo alternativas para despertar a consciência nessas crianças de que esses animais exigem atenção e cuidados especiais, como todo ser vivo, e que o desconhecimento de tais necessidades pode culminar em prejuízo também para a comunidade humana.
Apesar do incessante trabalho das prefeituras e governos estaduais e federal, no que se refere à vacinação anti-rábica, das leis que regem a conduta de posse de animais domésticos, a educação da população é primordial na erradicação dessa situação, sendo uma ferramenta fundamental para promover um grau de consciência razoável que transcenda apenas a preocupação com os animais, focando basicamente a saúde pública (humana) e suas conseqüências.
Por:
Aparecida E. Gaviolli, Núcleo de Apoio Institucional e Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, SP
Gelson Genaro, Unesp – Campus São Vicente