Geral
O médico veterinário frente aos desafios do agronegócio
Artigo
O agronegócio vai segurar a economia brasileira em 2008. Esta é a previsão dos economistas e o que se pode perceber quando analisamos o comportamento deste setor nos últimos anos. Vamos tomar como exemplo a carne bovina, produto em que o Brasil é líder mundial em volume de exportação. O crescimento deste setor foi vertiginoso nos últimos cinco anos em virtude do aparecimento de mega empresas no setor, desde confinamentos com mais de 100 mil animais a até indústrias frigoríficas, que aumentaram suas plantas e ampliaram fronteiras, tornando-se multinacionais. Enfim, o negócio da carne bovina brasileira tornou-se grande, movimentando volumes impressionantes de dinheiro. Certamente de alguma forma a Medicina Veterinária contribuiu para este crescimento, mas será que realmente estamos preparados para participar de maneira efetiva no crescimento dos setores animais do agronegócio?
No que diz respeito à produção animal, certamente estamos bastante ativos e incorporando novas tecnologias para aumentar o desempenho e a qualidade dos animais. No entanto existem setores em que a evolução se faz lenta (ou não existe), ?crise do leite? no final do ano passado mostrou algumas destas falhas. A cadeia do leite estava passando por um dos melhores momentos de sua história, com boas perspectivas de preços e possibilidades de ingressar de maneira importante no mercado internacional, o que acabou retrocedendo, pela falta de credibilidade do produto brasileiro. As exportações de carne bovina enfrentaram uma série de dificuldades, em função do episódio da febre aftosa e do problema com a rastreabilidade e certificação de propriedades.
Talvez tenhamos cumprido nossa tarefa ao corrigir os problemas, mas isso não basta, quando fazemos parte de uma cadeia econômica nós necessariamente temos que estar presentes antes, prevenindo, denunciando e evitando que o dano ocorra. Pois, construir credibilidade demora muito tempo, destruir é rápido e recuperá-la muitas vezes é impossível. Quando nosso setor é afetado, todos o são.
O Estado não será capaz de resolver todos os problemas da saúde animal no Brasil, e isto pode ser exemplificado pela a febre aftosa, com a qual se luta há décadas e a enfermidade, ainda não foi controlada de maneira adequada. Hoje existe um enorme efetivo de médicos veterinários, que certamente, não serão absorvidos pelos serviços oficiais, mas que podem colaborar de maneira muito importante para que possamos garantir produtos de qualidade aos consumidores, sejam eles do mercado interno ou externo.
Um passo importante neste sentido foi dado com a criação do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose ? PNCEBT, a primeira tentativa de uma Parceria Público-Privada, no setor da saúde animal. Esta foi certamente a melhor e mais moderna iniciativa do Mapa em termos de programa sanitário no Brasil, mas infelizmente seu desempenho está aquém das expectativas e isto talvez se deva ao fato da pouca compreensão dos objetivos de um programa deste tipo, por parte da nossa classe.
Temos que mudar nossa postura frente às questões relativas às cadeias produtivas. Um ponto importante é a relação entre médicos veterinários da iniciativa privada e os do serviço oficial, esta deve ser uma relação sinérgica e não antagônica. Afinal, todos buscam ou deveriam buscar a mesma coisa, saúde animal de qualidade. E neste sentido o perfeito entendimento das ações oficiais pelos veterinários da iniciativa privada e vice-versa é fundamental, para que assim cada profissional, independente da sua ligação funcional, torne-se um fiscal da sanidade animal e passe a colaborar efetivamente com o agronegócio brasileiro. Se isso estivesse acontecendo, talvez não tivéssemos que assistir a reentrada da febre aftosa em áreas do território nacional já livres da doença.
O médico veterinário é sem dúvida um profissional fundamental no desenvolvimento das cadeias produtivas, sobretudo quando elas tomam a dimensão que vem tomando no Brasil, uma vez que a sanidade animal tem grande importância na expansão e conquista de mercados para nossos produtos. Mas, nós temos que assumir o desenvolvimento da parte da cadeia que nos cabe, sugerindo, cobrando e participando do planejamento econômico, pois somente desta forma vamos ocupar de maneira efetiva nosso lugar no desenvolvimento econômico do País, cumprindo nosso papel social e valorizando a Medicina Veterinária diante da sociedade.
Autor:
Felipe Pohl de Souza, médico veterinário e docente da PUCPR