Geral
Hiperparatireoidismo Nutricional Secundário em Filhotes de Jacaré do Pantanal
Artigo
Segundo Vianna (1999), em criações de crocodilianos com finalidade comercial e conservacionista são utilizados somente subprodutos de origem animal, como vísceras bovinas in natura, subproduto da avicultura e peixes, em menor escala.
Na literatura há poucas informações básicas sobre requerimentos nutricionais e avaliação nutritiva dos diversos alimentos consumidos pelos crocodilianos (Santos, 1997). Dessa forma, em muitos casos, as tentativas de criação em cativeiro têm resultado em sérios problemas nutricionais e metabólicos.
A deficiência de vitamina D3 em répteis pode estar associada à falta de suplementação na dieta ou à ausência de exposição à luz ultravioleta, sendo que esta é de suma importância, pois transforma as provitaminas D
Este trabalho tem como objetivo avaliar e descrever o hiperparatireoidismo nutricional secundário através de observações visuais externas em filhotes de jacaré-do-pantanal (Caiman croccodillus yacare).
Material e Métodos
Este estudo foi realizado no período de maio de
Foram utilizados aquecedores de água e lâmpadas incandescentes de 100 watts colocadas nos centros das caixas, sendo que a temperatura foi monitorada diariamente. O fotoperíodo foi controlado por temporizador, mantendo 12 horas de luz diárias. Durante este período não houve qualquer exposição à radiação ultravioleta. A dieta foi constituída exclusivamente por carne bovina moída de segunda e fornecida “ad libitum” na freqüência de 6 vezes por semana, sempre às 10h. A análise bromatológica da carne foi realizada no laboratório de nutrição animal da UEPG e a análise de teores de cálcio e fósforo no laboratório de bromatologia da Fundação ABC. A avaliação do hiperparatireoidismo nutricional secundário foi realizada através de observações visuais dos animais, tendo como parâmetro o aumento do volume do dorso, sendo atribuído aos animais escores de gravidade da doença, que variam em normal, leve, moderado e grave, com pontuação de
Neste momento também foram realizadas as biometrias dos filhotes, medindo o comprimento total (CT), comprimento rotro-anal (CRA) e o peso (P), utilizando-se trena (
Resultados
Os resultados obtidos através da avaliação visual mostram que 47,17% dos animais não apresentam aumento do volume do dorso, 33,96% apresentam leve aumento, 13,2% moderado e 5,67% grave aumento. Os valores médios de CT, CRA e P foram respectivamente,
A composição bromatológica expressa na matéria seca, da monodieta fornecida aos animais foi de 62,11% de proteína bruta, 37,07% de extrato etéreo, 179 mg/kg de Ca e 0,16% de P.
Discussão
O HNS decorre da hipocalcimia causada pela deficiência de cálcio na dieta a longo prazo e da ausência à exposição da luz ultravioleta, sendo que os sinais da doença nem sempre são aparentes e podem não ser detectáveis até que danos irreversíveis tenham ocorrido (Santos, 1997). A doença é geralmente observada em animais jovens, pois, animais adultos com total desenvolvimento ósseo são muito mais resistentes à doença, devido a sua vasta reserva de cálcio nos ossos (Mader, 1996). Os sintomas típicos incluem além do aumento do volume do dorso, deformações ósseas, fraturas espontâneas, paralisia, perda de dentes, mandíbula flexível e perda de apetite. A relação Ca:P da dieta foi de 1:9, enquanto a relação recomendada está entre
Outro fator que deve ser considerado é o fornecimento de vitamina D3 na dieta ou o planejamento de instalações que permitam a incidência direta de luz UVB, ou ainda, emprego de lâmpadas que emitam raios UVB. Atualmente a vitamina D3 pode ser acrescida na dieta através de uma pré-mistura de vitaminas comercial para frangos, já que ainda não há produtos específicos para répteis.
Conclusões
Baseado nos dados obtidos, pode-se observar que a utilização de monodieta a base de carne bovina, como vem sendo utilizada nas criações de crocodilianos brasileiros, deve ser suplementada com cálcio na relação mais próxima da recomendada. Além disso, deve-se proporcionar a irradiação UVB adequada ou suplementar à vitamina D3 na dieta.
Referências bibliográficas
GOULART, C. E. S. Herpetologia, Herpetocultura e Medicina de Répteis. 1ª edição. Rio de Janeiro: L.F. Livros, 2004.
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MADER, D. R. Reptile and Surgery. Califórnia: Ed. Saunders, 1996.
SANTOS, S. A. Dieta e Nutrição de Crocodilianos. Corumbá: Embrapa-CPAAP, 1997.
STATON, M. A.; BRISBIN, JR; I. L.; PESTI, G. M. Formulation de alimentos para lagartos antecedents y estudios iniciales. p.117-134. In: Crianza de cocodrilos: Información dela literatura científica. El grupo de especialistas en cocodrilos de la comissión para la sobrevivência de las espécies. IUCN-World conservation Union, Grand., Suiza, 1991.
VIANNA., V. O. Uso de dietas artificiais no desenvolvimento inicial de tracajá (Podocnemis unifilis) tigre d’água (Trachemis dorbygnyi), teiú (Tupinambis merianae) e jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris)
Por Débora Zanello Klostermann, Zootecnista.
Fernanda Isabele Oczkovski, Zootecnista.
Verônica Oliveira Vianna, professora adjunta da UEPG