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Expansor de Casco: moldando cascos
Artigo
Desde os tempos da universidade, médicos veterinários ouvem de maneira bastante incisiva de seus docentes que os cascos de cavalos, após determinada idade, não podem ser mexidos ou alterados em sua conformação. Nem tão pouco sua angulação com o solo, pois tal fato poderia “mancar” ou até mesmo inutilizar definitivamente os cavalos.
Este paradigma persistia até 2004. Data em que uma equipe de engenheiros químicos, engenheiros mecânicos e médicos veterinários (Marcela Martins e Marcelo Dias Miranda) iniciaram um projeto que objetivava alterar de maneira lenta e progressiva o diâmetro e a angulação do casco. Para, assim, poder atuar terapeuticamente em algumas situações da clínica de eqüinos.
Amparados em conceitos da física newtoniana, da biomecânica e da podologia moderna, a equipe multidisciplinar – liderada pelos médicos veterinários – desenvolveu um novo dispositivo para ser fixado entre a ferradura e o casco. Tal dispositivo consegue alterar significativamente a forma do casco de um cavalo. As alterações obtidas nos cascos através do uso desta palmilha, denominada comercialmente “Expansor de Casco ESE”, vêm surpreendendo médicos veterinários em todo o Brasil. O expansor propõe mudanças significativas na abordagem dos cascos dos cavalos, alterando aspectos até recentemente intocáveis na clínica de eqüinos.
A principal função do expansor é ser um instrumento que resgate o aspecto morfológico do casco no que tange ao diâmetro, à distância entre os bulbos dos talões, ao ângulo do casco e ao ângulo do eixo podofalangeano. Além da função plástica, o expansor objetiva ainda recuperar a capacidade elástica funcional do casco, para preservar e aperfeiçoar a propriedade anticoncussiva do mesmo.
Na clínica de cavalos de esporte muitas situações podem provocar atrofia do diâmetro dos cascos, sendo estas atrofias geradoras de outras situações patológicas. O encastelamento, conformação patológica em que o ângulo do casco com o solo é superior a 55º, até recentemente não tinha cura, porém, com o desenvolvimento do expansor inúmeros casos foram tratados e totalmente recuperados.
Com o uso deste instrumento, identificaram-se cavalos que sofriam de uma situação não fisiológica. Em alguns casos, por exemplo, detectaram-se que a estrutura córnea do casco pressionava de maneira patológica as estruturas internas do casco, produzindo uma sintomatologia clínica, a qual culminava em claudicação de casco com diagnóstico impreciso e indefinido.
Um caso recente de sucesso na utilização do Expansor ocorreu com o cavalo de hipismo puro sangue inglês, de 15 anos, chamado Deniro Wiest. De propriedade da amazona Fabiane Bauab, o animal apresentava claudicação recorrente nos membros anteriores, com diagnóstico de síndrome navicular.
O médico veterinário responsável pelo cavalo, Pedro V. Michelotto Jr., professor de Semiologia, Clínica Médica e Cirúrgica de Eqüinos da PUCPR, após avaliar o tamanho dos cascos e a possibilidade do expansor redirecionar lateralmente as forças resultantes do impacto, prescreveu o produto com o objetivo de aliviar o sofrimento imposto ao osso navicular, bem como aumentar o diâmetro dos mesmos. Desde o início da utilização do expansor, o cavalo foi campeão paranaense de amador especial em 2006 e campeão brasileiro de amazona por equipe em 2006. Além de mais outros quatro títulos em 2007, em novembro do mesmo ano a amazona Fabiane Bauab e Deniro, na sede da Sociedade Hípica Paranaense, sagraram-se Campeões Nacionais de 2007, na série 1,10m.
Segundo informações de Michelotto, “o expansor de casco conferiu conforto ao cavalo e tranqüilidade para o acompanhamento médico veterinário, resultando na satisfação da proprietária”.
Outro recente sucesso foi obtido com o cavalo Alucard, ganhador do Grande Prêmio Paraná realizado em dezembro de 2007, no Jockey Clube. Tal cavalo é treinado por Luiz Roberto Feltran, que, em concílio com sua equipe médico-veterinária (Bianca Cascardo, do Rio de Janeiro, e Fernando Perche) decidiram pela utilização do expansor de casco. Para Feltran, “o cavalo passou a sentir-se mais confiante e à vontade com o uso do expansor”.
De acordo com Bianca Cascardo, “a utilização do expansor pelo tempo adequado, colocado por uma boa equipe de ferrageamento e com o devido acompanhamento veterinário que o produto necessita, permitiu ao casco assumir a conformação que desejávamos, culminando no sucesso do tratamento com a vitória no Grande Prêmio Paraná”.
Em recente pesquisa de satisfação, os médicos veterinários indicaram e acompanharam o uso do expansor, sinalizando de maneira muito positiva ao invento, que mudará a terapêutica na clínica de eqüinos, no que se refere à abordagem dos cascos.
Devidamente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o Expansor de Casco é uma importante patente brasileira registrada por médicos veterinários paranaenses, levando consigo o nome da Medicina Veterinária do Paraná e do Brasil na vanguarda da pesquisa e do desenvolvimento de novas idéias e conceitos para o futuro da Medicina Veterinária.
Autor:
Por Marcelo Miranda, médico veterinário (mdm.gr@terra.com.br)