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Melhoramento Genético e a Produção de Bovinos nos Trópicos
Artigo
A produção animal nada mais é do que a utilização dos recursos genéticos, ambientais, sociais e econômicos disponíveis. Dessa forma, a maior ou menor eficiência e eficácia do uso desses recursos trazem resultados positivos ou negativos. A produção nos trópicos é baixa em função de dois fatores. O primeiro é a menor produção das raças tolerantes ao calor criadas nas regiões tropicais. Já o segundo fator é o pouco tempo que estas raças começaram a sofrer um processo de melhoramento genético.
Nos trópicos, o melhoramento genético é uma estratégia possível para melhorar os níveis produtivos dos animais. Melhorar geneticamente as raças locais é uma ótima estratégia, pois as raças tropicais são mais hábeis para manter a temperatura corporal dentro dos limites adequados em ambientes quentes. Esse melhoramento pode ser obtido por duas formas: pelo cruzamento de raças adaptadas com raças européias melhoradas ou por seleção das raças locais, sem introdução de animais exóticos.
A utilização de cruzamentos de animais adaptados com raças exóticas, apesar da possibilidade de induzir a sensibilidade às doenças infecto-contagiosas e parasitárias, resultam em maior ganho de peso dos animais mestiços (F1) quando comparados com o desempenho de animais adaptados ao clima tropical. Isso tem sido comprovado por diversos trabalhos de vários pesquisadores.
De acordo com Pedro Franklin Barbosa, da Embrapa de São Carlos (SP), os resultados obtidos com animais cruzados foram, em média, 15% superiores aos das raças puras quanto às características de crescimento (peso e ganho de peso). Todavia, estes animais tiveram 13% a mais de consumo de matéria seca. No entanto, a maior vantagem dos animais cruzados, conforme o pesquisador, está relacionado à utilização de fêmeas para a reprodução, pois foram 20% superior às raças zebuínas quanto à taxa de gestação. Os dados são confirmados pela equipe de Daniel Perotto, do Iapar, em trabalho de mais de 20 anos, na região noroeste do Paraná.
A seleção para adaptação de bovinos aos trópicos é um processo mais lento que o cruzamento, porém seus resultados são mais duradouros, pois os resultados obtidos são transferidos para gerações futuras através da herdabilidade. Entre os fatores que interessam à seleção animal em ambiente tropical, destacam-se os relacionados com a proteção contra a radiação solar e a eficiência da termólise. Os primeiros envolvem a existência de um pelame que seja altamente reflectante à radiação térmica e de ondas curtas associado a uma epiderme de elevada emissibilidade nessas faixas de ondas. Já a eficiência da termólise envolve diversas características de pelame (pequena espessura da capa, pêlos curtos, densos e bem assentados) e uma elevada capacidade de sudação.
Pesquisa desenvolvida, em São Paulo, com animais Red Angus, com pelame curto e comprido, durante o mês de novembro, apresentou um ganho em peso de 1.050 g/dia para os animais de pelo curto e 660 g/dia para os animais de pelagem longa. Sendo atribuída esta diferença a maior eficiência de termólise, a partir da mais rápida evaporação do suor e da maior convecção do ar com a superfície corporal.
Todavia, a estação do ano influencia a espessura do pelame, inclinação e comprimento do pelo que apresentam valores mais elevados no inverno. Já a pigmentação melanínica, tanto da pele como do pelame, é maior no verão. Pelo exposto, acredita-se ser de grande importância a observação da influência do melhoramento genético sobre a produção animal nos trópicos, uma vez que o objetivo geral da pecuária, além de produção com respeito ao animal, é a obtenção de lucro.
Jair de Araújo Marques (CRMV-PR 1951)
É médico veterinário, pesquisador do convênio Emater-PR/Iapar e professor de Criação Animal e Etologia, do Integrado Colégio e Faculdades de Campo Mourão.