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No aperto, ave prefere 'ficar para titia'


Publicado em: 20/11/2007 09:55 | Categoria: Geral

 



E, ao que parece, quase todo mundo sai lucrando. Como em geral os "titios" ou "titias" são parentes do bebê que vai nascer, eles ganham uma chance de passar adiante ao menos parte de seus genes adiante na espécie. Já a mamãe envolvida no negócio aproveita a ajuda da parentela para botar ovos menores, que exigem menos energia. Com isso, ela também tem chance de ter um número total de filhotes maior, aumentando seu sucesso como reprodutora. 

Um dos trabalhos a elucidar essa curiosa forma de economia familiar está na revista científica "Current Biology". Dustin Rubenstein, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e Irby Lovette, do Laboratório Cornell de Ornitologia, estudaram 45 espécies africanas de estorninhos, pássaros que são conhecidos por apresentarem a chamada criação cooperativa de filhotes. Nesse tipo de criação de filhotes, em geral há um grupo familiar mais ou menos extenso que contém casais reprodutores e outros indivíduos (tecnicamente conhecidos como "ajudantes") que os auxiliam no sustento da prole. 

"O que nós queríamos entender é por que algumas espécies de pássaros mostram essa comportamento cooperativo, enquanto outras muito próximas não o mostram", explicou Rubenstein ao G1. "Apesar de muita pesquisa, poucos estudos tinham mostrado alguma relação entre qualquer variável ambiental e a incidência da criação cooperativa", diz o pesquisador.

Rubenstein e Lovette resolveram colocar um pouco de lógica nessa confusão. Para começar, eles usaram dados de DNA para montar uma supergenealogia dos estorninhos africanos, que os ajudasse a entender como o grupo se espalhou entre os diferentes ambientes da África. O que eles viram é que, ao longo da evolução, os estorninhos que deixavam os ambientes de floresta úmida e colonizavam as savanas, mais secas e com estações do ano mais marcadas, deixavam de lado hábitos reprodutivos mais "egoístas" e adotavam a criação cooperativa. Por outro lado, se as aves faziam o caminho inverso, tendiam a voltar à vida em casal "simples". 

A dupla mergulhou mais ainda nos dados e avaliou outros padrões climáticos das savanas, como a presença de chuvas de um ano para outro. E acabou descobrindo que os ambientes habitados pelas espécies cooperativas eram justamente os mais imprevisíveis, com grande variação na quantidade de chuva de um ano para o outro. Assim, para os estorninhos, criar os filhotes em conjunto seria uma espécie de "seguro reprodutivo": pelo menos alguém do grupo conseguiria ter bebês saudáveis, fizesse chuva ou sol. 

"No nível individual, cada ave precisa pesar os custos e benefícios de diferentes estratégias reprodutivas. Alguns indivíduos podem decidir não procriar em determinado ano, enquanto outros podem ser forçados a não fazê-lo pelos indíviduos mais dominantes do grupo", diz Rubenstein.

Mamma pão-dura
Outro mistério da criação cooperativa, apesar dos muitos estudos, é o proverbial "que vantagem Maria leva". Isso porque, até hoje, nas espécies que usam o sistema, não foi detectada uma melhora na saúde ou na taxa de sobrevivência dos filhotes criados por pais e "titios". Uma pesquisa coordenada por Andy Russell, da Universidade de Sheffield (Reino Unido), acaba de detectar que quem se dá bem nesses casos na verdade é a mãe, e não o filhote.

No estudo de Russell, que está na edição desta semana da revista "Science", a ave espionada foi um passarinho australiano, o Malurus cyaneus. O paradoxo parecia ter voltado com força nos dados de campo: embora os filhotes com "titios" recebessem 19% mais comida que os sem "ajudantes", eles acabavam tendo o mesmo peso corporal dos só pelos pais. 

O m
istério se dissipou quando os ovos das fêmeas com ajudantes foram estudados. A equipe descobriu que, nesses casos, os ovos tinham 14% menos gema, 12% menos gordura e 13% menos proteína do que os ovos de aves sem "ajudantes". Para fechar o cerco, a equipe experimentou trocar as bolas, colocando ovos de mães com ajudantes em ninhos que não contavam com "titios". E voilà: os filhotes ficavam mais franzinos que todos os outros. É como se a mãe decidisse reduzir seu investimento no ovo ao saber que o filhote ia contar com a ajuda de outrem.

"Não acho que seja uma decisão consciente. Talvez haja algum efeito dos ajudantes nos níveis hormonais da mãe durante o desenvolvimento do ovo, que a faça retirar parte dos nutrientes mais cedo", explicou Russell ao G1. Ele diz que um mecanismo possível para o interesse dos ajudantes em dar uma mãozinha é a chamada seleção de parentesco -- uma forma indireta de passar os próprios genes adiante. Como o "titio" é aparentado à mãe em mais de 50% dos casos nessa espécie, ajudar os filhotes dela é uma forma de garantir sua própria sobrevida evolutiva.


Fonte: G1

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