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Doença do Pombo faz vítima fatal em Londrina
Segundo ela, no ano, sete pessoas morreram por causa da doença
Como a criptococose não é de notificação obrigatória, não há dados estatísticos sobre a incidência, em qualquer nível. Seus sintomas, no entanto, podem ser confundidos com os da meningite ou pneumonia.
De acordo com a chefe do recém-criado Núcleo de Epidemiologia do HU/UEL e assessora técnica da Secretaria Municipal de Saúde, Josemari de Arruda Campos, Londrina também não tem dados sobre a incidência da doença.
Segundo ela, não houve nenhuma situação epidemiológica que oferecesse necessidade de controle. Mas a assessora reconheceu que o contrário também é verdadeiro: a falta de dados pode ter mascarado a situação. “No entanto, não podemos ser alarmistas”, disse.
Segundo Josemari, até outubro de
Segundo a chefe da Divisão de Zoonoses da
Ministério
Isto pode ser comprovado no site do Ministério da Saúde. A única referência à criptococose encontrada pelo Localizador de Informações de Saúde, na página de Saúde Pública, foi uma única citação no Glossário Temático DST/aids, como se fosse relacionada exclusivamente a doenças sexualmente transmissíveis.
Na 10a revisão do Código Internacional de Doenças (Cid-10), ela nem é citada pelo nome. Consta apenas uma referência, chamada pelo código J67.2, e identificado como Pulmão dos Criadores de Pássaros.
Doença é causada por fungo
A criptococose é causada pelo fungo Cryptococcus neoformans, encontrado principalmente nas fezes de pombos. Segundo o Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, é uma das maiores causas de mortalidade em indivíduos imunodeprimidos (portadores do vírus da Aids, pacientes de câncer e leucemia, além de pessoas que precisam de medicamentos imunodepressores) em todo o mundo. O número de mortes pode chegar até a 20% dos casos.
Programa federal vai tornar comunicação obrigatória
Consultor do Ministério da Saúde e um dos maiores especialistas em fungos do Brasil, o médico e professor de infectologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Flávio de Queiroz Telles Filho, disse que o governo federal está desenvolvendo uma Divisão de Controle das Micoses Sistêmicas, que vai tornar obrigatória a comunicação de doenças fúngicas – inclusive a criptococose. Hoje, elas são praticamente ignoradas na rede pública.
“É o caso da paracoccidioidomicose (Blastomicose Sulamericana), uma doença que registra pelo menos 250 novos casos por ano. O Paraná é o único Estado que faz a comunicação compulsória desde
Um estudo realizado por três pesquisadores gaúchos e publicado no Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, em outubro de 2004, apontou que, das 88 amostras de fezes de pombos coletados em diversos pontos de Porto Alegre, 100% das amostras apresentavam o fungo C. neoformans, confirmando sua ocorrência nos pombos que habitam as praças daquela cidade.
Especialista não aconselha extermínio
Embora os pombos sejam o principal agente transmissor – através de suas fezes -, o médico infectologista Flávio Telles não aconselha o extermínio dessas aves. Segundo ele, a única alternativa é aprimorar o sistema de limpeza da cidade e acabar com a oferta abundante de comida.
Além disso, é preciso também limpar as praças, parques e locais de grande concentração de pássaros. “A varredura não deve ser feita porque põe no ar uma nuvem de fungo. As fezes precisam ser molhadas. E os indivíduos responsáveis pela limpeza devem usar máscaras. Isto vale para a limpeza das ruas ou em ambientes fechados, como residências, igrejas e locais de grande concentração de pássaros”, afirmou.
Dois casos confirmados em Cambé
Além do aposentado Roland Tkotz, 88 anos, Cambé registrou outro caso confirmado de criptococose. Desta vez, em um rapaz de 25 anos, filho do caseiro de Tkotz. “Meu filho sempre foi um rapaz forte, trabalhador. Agora, nem consegue sair de casa. É a mesma doença que o meu patrão pegou”, lamentou o pai, Jair Olímpio.
Segundo a diretora do Departamento de Vigilância
Paciente continua longe da cura
No último ano, a médica ginecologista Viktoria Tkotz, de Cambé, acabou se tornando uma especialista em criptococose, desde que o pai, o agricultor Roland Tkotz, 88 anos, contraiu a doença. Segundo ela, o quadro de saúde do pai se estabilizou, mas ainda está muito longe da cura.
“O problema é que só existe um antifúngico que pode ser usado, mas ele é extremamente tóxico. Então, o tratamento tem que ser feito em etapas, parando com o medicamento por um tempo. Aí o fungo volta”, explicou.
Viktoria não se conforma com o que ela chama de descaso das autoridades com a doença. “A rede pública de saúde tem que fazer alguma coisa. No mínimo, tem que esclarecer muito bem a população sobre o risco que está correndo ao alimentar os pombos”, afirmou. Para ela, a criptococose é uma doença tão perigosa que mesmo dois casos deveriam ser considerados epidemia.
O problema, segundo ela, é que o controle da doença esbarra em uma questão cultural. “Quando se fala em acabar com a ‘pombinha da paz’, é aquele berreiro. O próprio Ibama impõe milhões de dificuldades”, disse.
Segundo Viktoria, desde que o pai contraiu a doença, ela tenta junto ao Ibama conseguir autorização para fazer o controle de pombos na fazenda e na fábrica de sua propriedade. “Fui várias vezes ao escritório regional em Londrina, depois que publicaram a portaria permitindo o controle na zona rural. Saí de lá de mãos abanando, todas às vezes. Desisti. Tenho 200 funcionários expostos ao risco e não posso fazer nada”, disse.
No Ibama, a chefe regional Neusa Maria Emídio disse que, desde agosto de
De acordo com ela, também é possível fazer o controle de pombas domésticas. “Para estas, nem é preciso autorização do Ibama. Mas é preciso que um órgão público, ou da Saúde, da Agricultura ou Meio Ambiente, estabeleça a nocividade à população”, explicou.
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