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Fronteira com Paraguai mantém porta aberta a novos focos de aftosa
A reportagem do Estado flagrou, na quarta-feira passada, bois, vacas e bezerros circulando livremente na Linha Internacional, a faixa de fronteira entre Brasil e Paraguai. No único posto de fiscalização sanitária que ainda funciona na região, entre Mundo Novo e Guaíra, no Paraná, os fiscais estavam ocupados com um churrasco em pleno horário de expediente.
A região é considerada de "alta vigilância" pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, por causa do risco da doença. Ainda há suspeita de que o surto ocorrido em 2005, que resultou no abate sanitário de mais de 6 mil animais na região e em grandes prejuízos para as exportações brasileiras de carne, tenha se originado de animais trazidos clandestinamente do Paraguai.
Apesar disso, não há nada que impeça o gado paraguaio de continuar entrando no Brasil. A reportagem percorreu
O antigo posto de inspeção fiscal e sanitária
Numa área próxima, uma vaca e seu bezerro pastavam tranqüilamente ao lado de um dos marcos da fronteira, ora no lado brasileiro, ora no paraguaio. Em nenhum momento a patrulha da Polícia Militar que colabora com a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) na vigilância da fronteira passou pelo trecho.
O criador Valdemir Catarino dos Santos, de 67 anos, disse que o gado "varou a cerca". Ele tem um rebanho de mais de 50 cabeças numa área de apenas
Em Japorã, o agricultor Maurílio Francisco Neto disse que o trânsito de animais entre o Brasil e o Paraguai nunca parou. Maurílio tinha 82 bois quando surgiu a aftosa. Seu sítio estava na área interditada e o gado foi sacrificado. Ele recebeu a indenização paga pelo governo, mas desistiu de outro rebanho. "E se der aftosa de novo?"
Como prova de que o controle é necessário, uma equipe da Iagro apreendeu em 12 de dezembro,
O controle sanitário do gado e de produtos de origem animal e vegetal passou a ser feito num posto provisório. Os fiscais da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento informaram que a inspeção ocorre 24 horas por dia. No caso de bovinos, é exigida a guia de trânsito com dados da procedência e destino e o certificado sanitário assinado por veterinário. A reportagem constatou, no entanto, que à noite o posto é desativado: às 20 horas, o trailer usado pelos fiscais tinha desaparecido e o local estava deserto. Na quarta-feira, o posto estava de volta. Às 16 horas, horário do expediente, os três fiscais improvisaram uma churrascada ali mesmo, ao lado do trailer.
Enquanto os funcionários vigiavam a costela no braseiro, os caminhões e carros passavam sem parar. Um policial militar chegou fardado, mas apenas para se juntar aos comensais. Os fiscais , embora visivelmente incomodados com a presença da imprensa, não interromperam o churrasco. Os dois Estados - Mato Grosso do Sul e Paraná - estão empenhados em convencer a Organização Internacional de Epizootias (OIE) de que têm condições de obter o certificado de área livre de aftosa. Esse status possibilitaria a exportação de carne sem restrições à Comunidade Européia, o mercado mais cobiçado do mundo.
CASOS
O primeiro foco de febre aftosa foi detectado em agosto de 2005 na fazenda Vezozzo, em Eldorado (MS). Todas as propriedades vizinhas foram interditadas. Novos focos surgiram em seguida nos municípios de Japorã e Mundo Novo.
Na época, o governo do Estado atribuiu a aftosa à entrada clandestina de gado contaminado do Paraguai. As autoridades paraguaias contestaram. Foi montada uma operação de guerra para evitar que a doença se espalhasse. Os animais eram abatidos e enterrados.
A doença furou o cerco e atingiu o Paraná. O Ministério da Agricultura confirmou um foco
Fonte: O Estado de São Paulo