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Produção de leite é pressionada pelos laticínios


Publicado em: 26/06/2008 07:07 | Categoria: Geral

 




Eles pediram apoio do governo do Estado para evitar a desarticulação da produção de leite da agricultura familiar do Paraná, que vem sendo construída e organizada com muito esforço. Os representantes das cooperativas estavam acompanhados dos prefeitos de Jacarezinho, Valentina Helena de Andrade Toneti, e de Jaboti, Jorge Domingos de Siqueira.


O secretário Valter Bianchini determinou algumas ações para reverter essa situação, entre as quais a abertura de um diálogo com os grandes laticínios e cooperativas para debater a cadeia produtiva do leite, para que estes reconheçam as cooperativas de agricultores familiares como elos importantes na organização da produção no Paraná.


Também determinou que a Emater organize redes de comercialização, para facilitar a cadeia e fortalecer a base produtiva, com o aumento do investimento do agricultor para ampliar a produção média de leite na propriedade.


Segundo Bianchini, o Paraná é exportador de leite e a produção tem que sair do Estado por algum meio. “Não é possível uma cooperativa não aceitar uma produção organizada na base”, afirmou. Para o secretário, a inclusão social também se faz pela questão econômica e os pequenos produtores são os protagonistas da ampliação da produção de leite no Estado, que conquistou o segundo lugar no ranking da produção nacional.


Na última década o preço do leite triplicou no Estado, passando de R$ 0,17 o litro para quase R$ 0,60 o litro. “Vamos discutir a adequação das palataformas de recebimento do leite das cooperativas da agricultura familiar e avançar ainda mais”, disse o secretário.


Disputa

Segundo relatos de representantes das cooperativas, os laticínios e cooperativas que trabalham com a captação de leite estão fazendo um verdadeiro “ataque” aos agricultores familiares que estão crescendo. “Enquanto o agricultor é pequeno e produz entre 15 e 20 litros de leite por dia, as grandes empresas nem querem saber de captar essa produção”, disse o secretário geral da União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), Altair Passos. O argumento é sempre o mesmo: a logística não compensa buscar pequenos volumes de leite em locais muito distantes.


Para superar essa dificuldade e tornar a pequena produção de leite viável, a Emater vem trabalhando na organização dos pequenos produtores, para que entreguem o leite nas cooperativas de produção da Agricultura Familiar. Essas cooperativas vêm sendo organizadas desde 2005 e já se tornaram importantes canais de recepção do leite produzido no Estado, porque montaram uma logística que vai buscar a produção de leite nos lugares mais distantes. Mas elas também precisam daqueles produtores que estão produzindo mais para diluir os custos.


“Depois que promovemos o trabalho de organização, fornecemos assistência técnica, orientamos a produção e o produtor cresce na atividade e começa a produzir mais, os grandes laticínios começam a pressionar”, completou Francisco Pereira, que representa o Sistema Central de Cooperativas da Agricultura Familiar (Sisclaf), que abrange 26 cooperativas e mais de 5.000 pequenos produtores associados, que entregam uma produção mensal estimada entre cinco a seis milhões de litros de leite.


Segundo Pereira, quando um produtor atinge um volume de produção de 100 a 200 litros por dia, as grandes empresas oferecem até R$ 0,10 a mais por litro do que está pagando o mercado para sair da organização da agricultura familiar. Pior, esses estabelecimentos preferem pagar mais ao produtor e oferecem menos às cooperativas da agricultura familiar, que faz todo o trabalho de base junto aos mini produtores.


O consenso entre os representantes das organizações familiares é que as grandes empresas estão pegando os melhores produtores das cooperativas de agricultura familiar e, com isso, as tornam inviáveis, porque o caminhão não consegue fazer toda a coleta necessária por falta de fidelidade.


A reclamação geral é de que o produtor, por mais fiel que seja, não consegue resistir a esse assédio. Ao fazer as contas, aquele que entrega 100 litros por dia percebe que está perdendo entre R$ 200,00 e R$ 300,00 por mês, valor que faz falta para pagar as despesas na propriedade.


Segundo Passos, da Unicafes, os ataques estão maiores em Renascença e Tapejara do Oeste, na região Sudoeste, onde a Emater fez um bom trabalho de organização do pequeno produtor de leite. Mas a situação já está generalizada em todo o Estado. “Uma das cooperativas da agricultura familiar teve que vender o caminhão de coleta porque não valia a pena captar o leite”, contou.

“Para nós essa situação é desmoralizante”, disse o representante do Sisclaf. O grande temor é que ao desarticular as cooperativas da agricultura familiar, que fazem a captação de leite junto aos pequenos produtores, os grandes laticínios joguem o preço do leite novamente para baixo, como já aconteceu várias vezes, afirmou Francisco Pereira.

Outra reclamação é que os técnicos das cooperativas e laticinios tradicionais são apenas vendedores de insumos e não fazem o trabalho de organização construído conjuntamente entre a Emater e as cooperativas da agricultura familiar. “E depois que eles se apropriarem do nosso trabalho, o que vamos fazer? Vamos abrir novas fronteiras para eles novamente? Perguntaram indignados.

Os representantes das cooperativas da agricultura familiar lamentaram que, após o período de disputa, os grandes estabelecimentos acabam fazendo um trabalho de seleção e só ficam com os melhores, deixando os mini e médios produtores novamente desarticulados e submetidos a baixos preços.


Fonte: Seab

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