Geral
Ditadura do pedigree castiga cães com doenças genéticas
Segundo o programa "Pedigree Dogs Exposed" (algo como "Cães com pedigree expostos", na tradução livre), as doenças refletem a cultura de priorizar a aparência dos animais usados em shows em detrimento da sua saúde.
O documentário exibiu cães da raça rei Charles Spaniel cavalier com cérebros maiores que os crânios, boxers portadores de epilepsia e uma fêmea buldogue que não podia dar à luz sem assistência.
Mesmo com a saúde debilitada, os cães são autorizados a participar de competições. Além disso, o Kennel Club do país aceita registrar animais nascidos de cruzamentos entre mãe e filho ou irmãos e irmãs. A prática é comum como forma de manter o padrão estético apreciado como puro no meio.
Três em cada quatro dos 7 milhões de cães que vivem no Reino Unido têm pedigree, gerando para seus donos um custo anual de cerca de 10 milhões de libras esterlinas (mais de R$ 31 milhões) só com veterinário.
"Preço terrível"
Uma pesquisa recente realizada pelo Imperial College de Londres mostrou que os cruzamentos entre cães com parentesco próximos são tão comuns em pugs que os cerca de 10 mil animais registrados no Reino Unido vêm de uma linhagem de apenas 50 indivíduos distintos.
"As pessoas estão realizando cruzamentos que seriam, em primeiro lugar, totalmente ilegais em seres humanos", disse o professor de genética do University College of London Steve Jones.
"Isto é absolutamente insano do ponto de vista da saúde dos animais. Algumas raças estão pagando um preço terrível em termos de doenças genéticas."
Entrevistado pelo programa, o veterinário Mark Evans, da organização pelos direitos dos animais RSPCA, culpou o sistema de registro e as regras de aparência que determinam a lógica no mundo canino.
"O bem-estar e a qualidade de vida de muitos cães de pedigree estão seriamente comprometidos pelas práticas estabelecidas em função da aparência, guiadas primariamente pelas regras e requerimentos do registro e das competições", afirmou.
Entretanto, uma porta-voz do Kennel Club britânico disse que a entidade está trabalhando "incansavelmente" para melhorar a saúde dos cães de raça.
"Qualquer cão pode participar de exposições. Cabe ao juiz decidir se ele corresponde aos padrões da raça", disse Caroline Kisko. "Quando as características se tornam exageradas, ocorrem os problemas de saúde. Isto é algo que o Kennel Club não estimula. Ao contrário, ativamente educa as pessoas através de campanhas, incluindo os juízes, contra esse tipo de prática."
Fonte: Folha Online