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AACN Paraná: carne de qualidade para consumidores exigentes
Com o objetivo de melhorar a rentabilidade da pecuária paranaense, há cerca de três anos, um grupo de pecuaristas iniciou as discussões que terminaram na criação da Associação Araucária de Carne Nobre (AACN), com sede em Palmeira - PR. Felipe Pohl de Souza, médico veterinário, consultor e coordenador técnico da AACN está à frente do projeto para fornecer carne de qualidade conforme as necessidades de consumidores exigentes. O BeefPoint entrevistou Felipe para conhecer mais desse trabalho.
A idéia da associação surgiu em conversas sobre como melhorar a rentabilidade da pecuária paranaense. Chegou-se à conclusão de que para conquistar o mercado era preciso organizar a cadeia produtiva, pois o mercado já estava "ávido por qualidade", comenta Felipe. E qualidade seria o diferencial para se chegar a uma maior rentabilidade, através da melhor negociação dos animais para abate.
A partir daí, o trabalho foi unir criadores com o foco em produzir carne, e não apenas animais. Surgiu assim a Associação Araucária de Carne Nobre- AACN, atualmente presidida pela pecuarista Julia Mendes Lopes.
Era preciso fornecer a carne que o mercado estava exigindo, e para isso a AACN trabalhou em contato com consumidores de carne diferenciada. Proprietários e chefs de restaurantes e churrascarias foram convidados para participar do projeto e começaram a surgir as parcerias. Estes consumidores dizem que carnes precisam, e a associação se encarrega de produzi-la.
O interesse destes consumidores veio pela necessidade que eles têm de um fornecimento frequente de carne com qualidade, que tenha sabor, cor e acabamento de gordura adequado para atender seus clientes. Desta forma, o interessante foi o laço criado primeiramente entre a produção e o consumidor, para depois os dois juntos irem divulgar o programa para a indústria.
Da mesma forma que foi necessária a aproximação entre consumidor e produtor para este enxergar a oportunidade e se motivar a alterar seu processo de produção e investir no projeto Araucária Carne Nobre, a aproximação do consumidor na indústria facilitou e motivou esta a investir também em um programa diferenciado, investindo na tipificação de carcaça e bonificando o produtor conforme a qualidade da carcaça entregue. Assegurando assim o recebimento de carcaças de melhor qualidade para ter um produto diferenciado a ser oferecido no mercado.
O diálogo entre produtores e a indústria sobre qual seria o diferencial de preço foi facilitado com a entrada do LAPBOV (Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura - UFPR), que calcula e divulga o Índice Araucária, como ficou conhecido.
O programa
O padrão animal que se enxergou como o ideal para a região foi o cruzamento absorvente de Angus. Sendo 3/4 Angus em animais de base européia ou 7/8 Angus para animais de base zebuína. Atualmente o programa está com 4.000 matrizes produzindo animais de 1/2 até 7/8 sangue Angus. O objetivo é padronizar o rebanho em animais 3/4 Angus, contando com 5.000 matrizes em 2011 e 10.000 matrizes em 2013. Para assim padronizar o fornecimento de 100 animais para abate por semana. Atualmente são abatidos cerca de 300 animais por ano.
O bezerro desmamado é identificado e fica rastreado pela AACN. A associação está atuando somente com criadores e com essas medidas garante ao recriador (terminador) que há parceria com a indústria e ela reconhecerá o animal na hora do abate.
As características necessárias para a carcaça ser tipificada como padrão Araucária são de peso mínimo 240kg para machos e 210kg para fêmeas, idade máxima de 30 meses, acabamento gordura entre 04 e 12mm (na 12ª costela), sendo ideal de 6 a 8mm.
O frigorífico atual parceiro da Associação é o Frigorífico Argus. Segundo Felipe, o projeto foi aceito pelo Argus por ser uma indústria média (não exportadora) e o padrão Araucária de carcaça foi uma medida para o frigorífico se diferenciar no mercado e encontrar nichos que pagam por um produto diferenciado. Sem um produto diferenciado que tenha aceitação no mercado, toda a produção do Argus cairia no mercado junto com os grandes frigoríficos, dificultando a venda por valores maiores do que a média do mercado, explica Felipe.
Outro ponto importante é a participação ativa de todos os elos. Os criadores, representados pela AACN, estão em contato tanto com a indústria quanto com os consumidores. Os restaurantes recebem a carne Araucária e sabem de onde está vindo, toda a distribuição é acompanhada pela Associação. É também uma medida de segurança, explica Felipe, pois mantendo o relacionamento com os clientes não seria um problema caso a atual indústria parceira deixe o programa.
O produto já é reconhecido e o consumidor passaria a comprá-lo do novo frigorífico parceiro, com orientação da AACN.
O mercado atual é principalmente em Curitiba e questionado se a indústria receberia o maior volume proposto pela AACN, Felipe garante que sim. O programa está dando certo e o frigorífico enxerga que há espaço no mercado para a carne nobre Araucária e também que o sobre-preço tem espaço para subir.
Além de aumentar o número de matrizes, a valorização dos cortes do dianteiro é desafio almejado. Se o consumidor dizer que uma carne de panela feita com carne Araucária é melhor do que uma carne de segunda comum, a indústria pode aumentar o preço de venda, dando suporte para aumentar também a premiação paga pelas carcaças.
Felipe deixa como conselho para demais projetos de carne diferenciada a busca por consumidores. É necessário ouvi-los primeiro para identificar qual produto irá agradá-los, para assim estudar como e o que produzir. Dar voz ao consumidor é a melhor forma para mostrar a necessidade de mudança. Felipe destaca a necessidade da garantia de origem, começando o trabalho bem estruturado desde a cria e também o relacionamento ganha-ganha entre produção, indústria e consumidor.
Esse artigo tem como base entrevistas feitas por Skype pelo BeefPoint com Felipe Pohl.
Fonte: BeefPoint