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Apagões são reflexo da falta de investimentos
Cerca de 15 horas após um apagão que deixou às escuras, por até meia hora, diversos pontos de quatro regiões do país na noite de quarta-feira, um blecaute atingiu 70% do Distrito Federal por pelo menos duas horas nesta quinta-feira. E, há 12 dias, cerca de 6 milhões de consumidores do Nordeste ficaram sem luz por 23 minutos. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que a ocorrência desses três blecautes foi “mera coincidência”, mas especialistas alertam que faltam investimentos em manutenção e prevenção de falhas no sistema de transmissão e distribuição de energia do país.
O apagão da noite de quarta-feira atingiu ao menos 2,667 milhões de clientes de 13 estados do país — cerca de 7% do total, segundo levantamento do GLOBO junto a diferentes distribuidoras. Segundo Furnas, a causa do apagão foi um curto-circuito em seu transformador em Foz do Iguaçu, que gerou uma explosão e fogo no local, contido pela brigada de incêndio da subestação. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o incidente causou perda de carga na usina de Itaipu e a falta de energia afetou parte das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e os estados de Rondônia e Acre.
Renovação de concessões preocupa
Já as duas horas sem luz vividas em Brasília nesta quinta-feira, segundo Furnas, foram provocadas por um problema local. Segundo a Companhia Energética de Brasília (CEB), um incêndio no cerrado afetou uma linha de transmissão importante da região, que entrou em curto. Por segurança, as subestações foram desligadas automaticamente.
Para Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, falta planejamento e gestão ao setor. Segundo Sauer, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não cobra os planos de investimentos das empresas, preocupadas em elevar o lucro:
— Muitas vezes as obras das linhas de transmissão atrasam.
Nivalde de Castro, do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica da UFRJ alerta para a frequencia de apagões, problema que pode aumentar em 2013:
— Com a renovação das concessões, as tarifas serão renegociadas (dentro do pacote do governo para reduzir o preço da energia), e as empresas não serão mais remuneradas pelo capital investido. Com isso, podem não ter uma reserva (financeira) necessária para manter a qualidade.
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, afirma que sua preocupação é em “não piorar a situação”, já que parte das empresas fala em corte de pessoal para compensar as menores tarifas:
— O sistema interligado é uma vantagem do Brasil, mas tem gargalos e problemas técnicos. É preciso comprar melhores equipamentos e fortalecer o quadro de pessoal. Falta prevenção.
Furnas informou que a “as atividades de manutenção na subestação Foz do Iguaçu encontram-se rigorosamente em dia” e que está investindo R$ 1,5 bilhão para reforçar e modernizar seu sistema de transmissão. Apesar de informar que o sistema brasileiro é um dos mais eficientes e seguros, a empresa — que diz ter feito mais de 9 mil melhorias desde 2011 — alega que “em nenhum lugar no mundo um sistema de transmissão tão extenso e complexo está imune a eventuais ocorrências”.
O corte de energia da noite de quarta-feira, segundo o ONS, correspondeu a 6% do consumo no momento. O diretor-geral do órgão, Hermes Chipp, negou ontem que faltem investimentos:
— Posso garantir que não há um problema estrutural. Não há problemas de investimentos. Temos recebido investimentos estrangeiros, de chineses e espanhóis, tal é o sucesso dos leilões.
Em nota, o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek, afirmou que “o sistema respondeu de forma adequada” e que isso seria reflexo dos investimentos quem vem sendo feitos. Em entrevista à rádio CBN, Samek explicou como ocorreu as interrupções de energia:
— Quando ocorre uma retirada tão rápida de carga, (a interrupção no fornecimento) é espalhada pelo território nacional, para que nenhuma região sofra um apagão grande. Com isso, você mantém o sistema de pé e depois é muito mais fácil de restabelecer.
No Rio, 575 mil foram afetados
No apagão de quarta-feira à noite, 575 mil consumidores do Rio ficaram no escuro por volta das 21 horas, ou 8,6% dos 6,7 milhões de clientes no estado. Na área de distribuição da Light, a Zona Oeste do Rio, Nova Iguaçu, Seropédia e Itaguaí foram alguns dos locais afetados. Na região da Ampla, ficaram sem luz clientes de Araruama, São Gonçalo, Niterói, Campos e Petrópolis.
Na quinta-feira, às 13 horas, faltou luz na maior parte da capital federal. Congresso Nacional, Esplanadas do Ministério e até o Supremo Tribunal Federal ficaram parcialmente no escuro. No total, 560 mil unidades — lojas, residências e escritórios —ficaram sem energia em Brasília e nas cidades vizinhas. A luz foi religada aos poucos e, no fim da tarde, apenas duas cidades do entorno do DF permaneciam sem luz.
Tanto no Palácio do Planalto, como no Palácio da Alvorada, onde a presidente estava reunida com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, houve um pico de energia, e os geradores entraram em ação. Nos anexos do Planalto, foi acionado o esquema de emergência, com iluminação apenas essencial.
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