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Editorial Gazeta do Povo e a gestão Alexandre Kireeff em Londrina
O jornal Gazeta do Povo abordou na edição de sexta-feira a eleição do médico veterinário e empresário Alexandre Kireeff para a Prefeitura de Londrina.
O resgate da cidade não passa somente pelo campo político ou administrativo, mas também (e sobretudo) moral
Um dos mais surpreendentes resultados que emergiram das urnas do último dia 28 de outubro aconteceu em Londrina, com a vitória, por apertadíssima margem, de Alexandre Kireeff – um empresário de quase nenhuma militância política e que se candidatou pelo ainda pouco expressivo PSD, partido criado no ano passado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com a estranha linha política de “não ser de direita, nem de esquerda, nem de centro”, como ele próprio a definiu.
Por incrível que pareça, o fato de o novo prefeito apresentar biografia pouco expressiva em termos políticos até o momento e de pertencer a uma legenda tão descomprometida com posições pode se transformar na oportunidade que Londrina esperava para resgatar, com orgulho, a importância de sua história e a decisiva participação que teve no desenvolvimento do estado. Resgate que não passa somente pelo campo político ou administrativo, mas também (e sobretudo) moral. As características mencionadas anteriormente podem dar-lhe a independência de que precisa para devolver Londrina ao status que merece.
A vitória de Kireeff pode ser vista como resultado do cansaço dos londrinenses por décadas de instabilidade administrativa e de escândalos sucessivos protagonizados por seus últimos prefeitos – quase todos oriundos de vertentes populistas e, para dizer o mínimo, pouco cuidadosos com o dinheiro público que juraram respeitar. Tal comportamento custou à cidade o incalculável prejuízo da descontinuidade administrativa, causada por medidas judiciais e políticas que afastaram do cargo vários de seus prefeitos.
“Capital do Café”, Londrina foi o centro estratégico e econômico de onde partiu a ocupação e a colonização do Norte do Paraná, a partir principalmente dos anos 30 do século passado. Dali partiu o desbravamento de uma região da qual brotou a riqueza cafeeira, responsável pela mais profunda e permanente transformação social e econômica do Paraná, até então um estado considerado apenas como um apêndice de São Paulo. O café suplantou e produziu mais frutos que os colhidos pelo estado durante os ciclos da erva-mate e da madeira, que antes constituíam nossa base econômica.
Londrina foi o polo que permitiu a integração territorial do estado e lhe deu condições de avançar no rumo da industrialização. Terminada tragicamente a monocultura do café, vítima da geada de 1975, a região voltou-se para a produção de outra riqueza, representada pelos campos de soja, milho e trigo, propiciando o surgimento da cadeia produtiva da agroindústria e, posteriormente, sua diversificação.
Na mesma medida de seu progresso econômico, deu-se também o desenvolvimento cultural e o crescimento da importância política de Londrina. A cidade tem uma importante universidade estadual e é também a sede do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), detentor de inegável contribuição à modernização da agropecuária paranaense.
Não por outra razão, o Paraná deve a Londrina o nascimento de algumas de suas grandes lideranças políticas, incluindo pelo menos dois governadores, que vicejaram principalmente a partir da presença forte e respeitada de prefeitos que honraram o cargo, como Milton Menezes, Hosken de Novaes e Dalton Paranaguá.
O Paraná, em geral, e Londrina, de modo particular, esperam agora que Alexandre Kireeff não apenas contrarie os clãs de maus políticos que envergonharam a cidade nas últimas décadas, mas também a recoloque no bom caminho.