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Trabalho genético explica mito do hormônio do crescimento em aves
"Não tem hormônio." Essa costuma ser uma resposta comum. Na esteira de um sistema produtivo em que aves vivem cerca de 45 dias entre sair do ovo e ir ao abate, o mito do uso de hormônios de crescimento na avicultura ganhou força. Spams alertam sobre o risco de puberdade precoce
Mas hormônios de crescimento, ou substâncias anabolizantes, não são empregados na criação de aves. O que há é o uso de compostos promotores de crescimento produzidos pela indústria farmacêutica --geralmente por laboratórios que também fazem medicamentos para humanos.
A confusão de termos acompanhou o aumento da produção do alimento, que passou a acontecer em escala industrial depois da Segunda Guerra Mundial. É nesse ponto da história que começam a surgir as atuais estruturas de granjas, em que pavilhões abrigam até12 mil aves que crescem mais em menos tempo.
Os especialistas garantem que o medo do hormônio não passa de um mito. "É um grande mal-entendido. Não existe nenhuma possibilidade de haver uso de hormônio em frangos de corte. Os animais não respondem a essa substância, e ela não é viável economicamente", explica a professora Andréa Machado Leal Ribeiro, coordenadora do laboratório de nutrição animal do departamento de zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O pesquisador da Embrapa Suínos e Aves (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Gerson Scheuermann diz que, como qualquer outro animal, os frangos têm hormônios naturais. "Mas não são usados hormônios exógenos na criação", afirma o agrônomo, doutor em produção animal.
Melhoramento genético
Segundo os pesquisadores, o melhoramento genético feito durante décadas é um dos grandes responsáveis pelo maior ganho de peso em pouco tempo.
"Ano após ano, são selecionadas as melhores aves, as que ganham mais peso, as que têm melhor performance", esclarece Scheuermann.
O melhoramento é impulsionado, segundo Ribeiro, pelo fato de a galinha ter muitos pintinhos, o que permite fazer uma seleção melhor. "A vaca, por exemplo, tem um bezerro por ano. Já a galinha bota 280 ovos anualmente", compara. "Nossas avós conheciam um frango diferente do que temos hoje.
Em duas gerações, a ave mudou muito. As pessoas simplificam e acham que foram os hormônios", completa.
Segundo ela, estudos já avaliaram o uso de hormônios em aves, mas os resultados não foram bons.
"Não encontraram nada que estimulasse o crescimento além do próprio potencial genético do animal.".
Os avanços na nutrição (com rações consideradas mais balanceadas do que a dieta de um ser humano), o controle ambiental (como regulagem de luz e temperatura) e o desenvolvimento na prevenção e no tratamento de doenças também são apontados como fatores que fazem o frango crescer mais rápido.
Promotor de crescimento
Apesar de não serem utilizados hormônios, criadores convencionais colocam na ração os promotores de crescimento.
São antibióticos usados em dosagem muito menor do que a recomendada para fins terapêuticos. Por melhorarem as condições do intestino do animal, evitando diarréias, os produtos fazem com que ele aproveite melhor o que come.
Em muitos países da Europa, essas substâncias são proibidas. O argumento é que elas poderiam contribuir para a resistência das bactérias aos antibióticos, tornando os remédios desse tipo ineficazes para doenças humanas.
"É uma discussão recente no mundo, às vezes acalorada. A principal causa da resistência bacteriana são os antibióticos usados pelos próprios humanos. Além disso, a substância não se deposita nos músculos dos animais nem deixa resíduos", diz Scheuermann.
A inofensividade dos antibióticos não é unanimidade. "Ninguém pode dizer com segurança que não deixam resíduos. Exames não detectam moléculas inteiras dessas substâncias. Quimicamente, os resíduos teriam outra estrutura", observa
Luiz Carlos Demattê Filho, gerente de produção animal da Korin. A empresa, seguidora dos princípios da agricultura natural da Igreja Messiânica, não faz uso de antibióticos nas criações de frangos.
Mesmo entre os criadores convencionais, a prática é suspender a inclusão dessas substâncias na ração nos sete dias que antecedem o abate. E, devido às restrições européias, os produtores brasileiros vêm diminuindo o uso delas por alternativas como extratos vegetais, probióticos e enzimas.
Fonte: Folha de são Paulo