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Entidades lançam cartilha no Encontro de Veterinários das Prefeituras do Paraná
O “II Encontro Estadual de Médicos Veterinários das Prefeituras do Paraná”, realizado nesta segunda e terça-feira (21 e 22), em Curitiba, teve por objetivo o lançamento da cartilha para padronização dos Serviços de Inspeção Municipal no Paraná (SIM/POA-PR). Os dois dias de evento foram marcados por palestras sobre febre amarela, esporotricose, vigilância sanitária, saúde animal, bem-estar animal e compartilhamento de experiências municipais em Saúde Única.
A consultora técnica do Sindivet-PR, Juliana Luísa Brandão, diz que a previsão é que a cartilha seja disponibilizada em caráter de consulta pública no site do sindicato nos próximos 15 dias. O objetivo inicial, como explica Juliana, era divulgar um documento simples. Porém, no decorrer do projeto, o documento “ficou muito mais elaborado e detalhado”, diz a médica veterinária. Ela comenta que o trabalho durou um ano, com a contribuição de muitos colaboradores, transformando-se em um manual.
A partir do momento que o manual ganhou forma, foi enviado aos profissionais integrantes do grupo de trabalho para sugestões. Há também um modelo de lei que acompanha a cartilha e o intuito é tentar incluir o memorial técnico-sanitário. Quando finalizado, as instituições poderão analisar o documento, já que é um trabalho que envolve profissionais e entidades. “Nós queremos realizar o material de uma maneira democrática. A intenção é de que o documento seja feito por muitas mãos. Depois da anuência de todas as entidades, realizaremos uma publicação oficial. O material totaliza 50 páginas”.
Juliana acrescenta ainda que, por conta de várias regulamentações, mudanças de legislação, surgimento de SISBI, selo arte, o SIM ganhou destaque. “De repente os olhos se voltaram para o SIM. Os profissionais perceberam a necessidade desse serviço de inspeção municipal. O SIM vai abrir portas. É um modelo que poderá ser reproduzido em diversos estados. Então, é a hora do SIM brilhar”, enfatiza. Para a médica veterinária, o serviço de inspeção municipal movimenta toda a economia dos munícipios.
Palestras
Além do lançamento da cartilha, o evento contou com palestras ministradas por médicos veterinários da área. A teoria do pensamento complexo, do pensador Edgar Morin, foi apresentada pelo auditor fiscal agropecuário do MAPA, Diego Leonardo Rodrigues. Geralmente aplicada na área da educação, a teoria pode ser estendida a outras áreas da vida, pois ela explica que, ao longo da história, as pessoas foram afunilando as atividades humanas, culturais e profissionais, levando-as ao isolamento. Ou seja, alguns médicos veterinários só conhecem febre amarela; outros, só de brucelose; há ainda os que se dedicam ao estudo da raiva. Porém, conhecer uma pequena porção da grande área que é a veterinária prejudica na comunicação com os colegas da profissão. Para Rodrigues, o encontro é “um momento de assumir a própria ignorância e limitação, aprendendo com os colegas”.
O médico veterinário apresentou ainda uma visão ampla da atuação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Saúde Animal e como as diferenças regionais influem na gestão de vigilância. “O MAPA coordena os estados, determina normas gerais para o país, mas ele não executa a ação, são os estados que estabelecem as próprias prioridades. É preciso fazer uma avaliação dos sistemas de vigilância e adequar a cada realidade”.
“Panorama atual e perspectivas para o enfrentamento da esporotricose felina”
Na palestra do médico veterinário Sandro Antônio Pereira, ele conceitua a esporotricose como uma micose subcutânea, causada por fungo e que acomete seres humanos e várias espécies animais, principalmente, os gatos e cães. O enfoque, no entanto, foram os gatos. A zoonose também é conhecida como doença do jardineiro, já que está presente em plantas, solo e matérias em decomposição. A transmissão acontece também por gatos doentes, por arranhadura e mordedura, e por contato das lesões cutâneas. “O gato apresenta um elevado potencial zoonótico e nas lesões cutâneas uma alta carga fúngica. Essa característica faz dele uma excelente fonte de infecção”, explica Pereira.
A médica veterinária Ana Paula Coninck Mafra Poleto também abordou a temática de esporotricose felina e acrescenta que os desafios para prevenir e controlar a zoonose são inúmeros. Essa doença complexa exige tratamento dos felinos; medicamentos relativamente caros; internamento de animais, já que os proprietários não têm como tratar; fornecimento de medicação pelo poder público, que ainda não há no Paraná; deslocamento de animais doentes de uma área para outra, pela ação humana, disseminando a doença; além de casos de esporotricose nas equipes de vigilância.
Fraudes na comercialização de carnes e o risco para a saúde da população
Em “Fraudes na comercialização de carnes e o risco para a saúde da população”, a médica veterinária Renata Ernlund Freitas de Macedo abre a palestra comentando no que consistem as fraudes de alimentos. “As fraudes e adulterações são realizadas com o objetivo de obter ganhos econômicos. Algumas mascaram condições sanitárias deficientes do produto e atribuem condições que o alimento não tem”.
Segundo Macedo, as fraudes acontecem porque há pessoas gananciosas; depois, existem as vítimas, os consumidores e, por fim, não há controle rigoroso e eficiente, além de métodos fáceis para detectar fraudes. É um problema global que está aumentando”. Estima-se que os custos anuais das fraudes são de 30 bilhões de euros, segundo dados apresentados pelo estudo de uma associação europeia, responsável pelo controle e monitoramento de fraudes.
Desafios em Bem-Estar animal no Serviço Público: Manejo Populacional e Fiscalização de Maus Tratos
Segundo a Organização Mundial da Saúde Animal, um dos conceitos de bem-estar significa em como o animal está lidando com as condições em que vive, se está saudável, confortável, seguro e se é capaz de expressar o seu comportamento natural. “O bem-estar basicamente avalia três esferas: psicológica, comportamental e física”, explica a médica veterinária Janaina Hammerschmidt.
Na apresentação, ela enfatiza que hoje um dos maiores desafios é com os acumuladores, tanto em relação ao bem-estar humano quanto ao bem-estar animal. “Não é um serviço simples. Não é possível ser resolvido por um único profissional, porque demanda estrutura e corpo técnico”. O atual cenário brasileiro de imensa inserção de cães e gatos dentro dos domicílios, convivendo com pessoas, traz benefícios e também problemas. É um caso de saúde pública, defende a profissional.
Foto: Renato Schneck | Sindivet-PR.