Em documento enviado à Comissão Européia (o braço executivo da UE) no mês passado, a Associação de Fazendeiros da Irlanda pediu que o bloco suspenda temporariamente as importações de carne do Brasil, alegando que os produtores brasileiros não utilizam sistemas adequados de rastreamento do gado, que podem ser usados para identificar carregamentos no caso de surtos de doenças.

Segundo o presidente da comissão de Agricultura do Parlamento Europeu, o deputado britânico Neil Parish, por culpa dessa deficiência, “acredita-se que parte dos envios (de carne do Brasil) procede de zonas restringidas devido à febre aftosa”.

Os produtores europeus também alegam que os brasileiros usam medicamentos e hormônios de crescimento ilegais na UE.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério de Agricultura, as críticas da Associação de Fazendeiros da Irlanda são um ataque à forte concorrência da carne brasileira.

"O Brasil é o maior exportador de carne do mundo devido justamente à qualidade da carne que produz. Os produtores irlandeses têm perdido cada vez mais espaço para os brasileiros. É normal que façam críticas. Mas o Brasil está totalmente dentro dos padrões exigidos pela UE", disse o Ministério.

Na semana passada, o comissário europeu de Saúde, Markus Kyprianou, havia dito que “as autoridades brasileiras foram notificadas sobre as deficiências” e que “enfrentarão medidas restritivas” se as preocupações a respeito do controle sanitário não forem esclarecidas até novembro.

Descontente com a posição de seu colega, Fischer Boel lhe enviou uma carta na qual afirma que a situação coloca em jogo “a credibilidade de toda a Comissão (Européia)”.

Para tranquilizá-la, Kyprianou convocou para a próxima segunda-feira um debate no Parlamento Europeu, no qual pretende apresentar um relatório respondendo “ponto por ponto” às questões levantadas pelos agricultores europeus.

Os europeus também estão preocupados com a entrada de carne brasileira falsificada no bloco. Segundo o relatório anual sobre fraude e corrupção da UE, fraudes nas exportações brasileiras - principalmente de carne bovina, frango e açúcar - causaram cerca de US$ 20 milhões em prejuízos no ano passado.

As autoridades brasileiras têm conhecimento de casos de contêineres de carne chinesa que entram na UE com certificados falsos, afirmando que são provenientes do Brasil.

Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes, o problema "reflete um problema de alfândega e controle da UE". "A carne sai do Brasil com tudo direitinho. Não é culpa nossa se entra na Europa em caixa adulterada, com documento falsificado", defendeu.

Com o objetivo de acabar com a falsificação, a partir deste mês a carne exportada pelo Brasil passa a levar um novo certificado, feito em papel especial da Casa da Moeda, com marca d’água e outros 11 itens de segurança.

“Essa é uma das medidas que foram exigidas pela União Européia, o que comprova que o Brasil está totalmente no prazo”, afirma Edit Silva, assessora de imprensa do Ministério de Agricultura.

Fonte: BBC Brasil