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Brasil ganha quatro novas espécies de anfíbio


Publicado em: 20/09/2007 07:14 | Categoria: Geral

 



Tomemos, por exemplo, o caso do animalzinho acima -- a Scinax cabralensis, encontrada na serra do Cabral (interior de Minas Gerais) e descrita num artigo científico que deve sair em breve na publicação internacional "Zootaxa". Segundo um de seus descobridores, o biólogo Leandro de Oliveira Drummond, que atualmente cursa o mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto, a perereca de apenas 2,5 cm pode ser apenas a ponta do iceberg em termos de espécies ainda desconhecidas na região.

"A serra do Cabral é uma área relativamente isolada e ainda muito pouco estudada. Por isso, a área é considerada como sendo de importância biológica prioritária para a conservação em Minas Gerais, de acordo com um levantamento feito por diversos especialistas para a Fundação Biodiversitas [ONG especializada em estudos sobre a biodiversidade]", conta ele. Ainda é cedo para dizer se, apesar do habitat aparentemente restrito, o novo bicho já nasceu para a ciência sob risco. "Localmente ela parece bem abundante", avalia o biólogo.

A perereca se alimenta de pequenos invertebrados e ocupa um habitat todo especial, os chamados campos rupestres. Comuns no alto de montanhas, os campos rupestres compõem uma vegetação normalmente rasteira e durona, adaptada ao crescimento entre rochas. Na estação da seca, as pererecas da espécie parecem se refugiar na água que se acumula no interior das bromélias (plantas do mesmo grupo do abacaxi). A necessidade de reter líquidos é muito grande entre os anfíbios, com sua pele delicada e altamente permeável.

Basta vir a época das chuvas, porém, para que os bichos entrem em verdadeiro frenesi. A espécie da serra do Cabral pratica a chamada reprodução explosiva, na qual machos e fêmeas se acasalam em massa num único grande surto. "Dá para ver centenas de machos cantando nessa época", conta Drummond. Foi graças, em parte, ao tipo de canto, além da análise morfológica, que o pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto e seus colegas conseguiram mostrar que se trata realmente de uma espécie nova.

Meninas das ilhas

Se ainda faltam dados para saber se a perereca mineira está sofrendo alguma ameaça, o mesmo não se pode dizer de duas "primas" dela que habitam ilhas do litoral de São Paulo. As duas também pertencem ao gênero Scinax: a S. faivovichi só ocorre nos 24 hectares da ilha de Porcos Pequena, perto de Ubatuba, enquanto a S. peixotoi é encontrada apenas na ilha de Queimada Grande, região de Itanhaém.

Os dois bichos acabam de ser descritos formalmente por Cinthia Aguirre Brasileiro, pós-doutoranda do Museu de História Natural da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), junto com colegas de outras instituições. Por viverem em regiões de mata atlântica isoladas e altamente vulneráveis a qualquer perturbação, como desmatamento ou queimadas, as duas novas espécies já deveriam ser consideradas em risco de extinção, avaliam os biólogos -- para eles, a S. peixotoi merece a classificação de "criticamente ameaçada", a mais grave adotada internacionalmente.

Como costuma acontecer com as pererecas, também são animais pequenos (até 2 cm de comprimento para os machos e um pouco mais para as fêmeas da S. peixotoi, no máximo 1,88 cm para os machos e um tiquinho mais para as fêmeas da S. faivovichi). Os bichinhos têm associação muito próxima com as bromélias da mata atlântica -- os girinos se desenvolvem na água acumulada no interior das plantas.

Cinthia Brasileiro contou ao G1 que tanto a fauna quanto a flora das ilhas do litoral paulista (e dos outros estados do Brasil) ainda são pouco estudadas. "E a região Sudeste tem o maior número de herpetólogos [especialistas em anfíbios e répteis]. Com isso você pode imaginar quantas espécies na Amazônia, no Nordeste e no Centro-Oeste ainda são desconhecidas", diz.

Acredita-se que as espécies das ilhas possam ter se separado de suas primas do continente há cerca de 12 mil anos atrás, com o fim da Era do Gelo. "Nessa época, as ilhas do litoral paulista estavam conectadas ao continente. Era tudo um único bloco de terra. Então o nível do mar subiu, invadindo as planícies mais baixas. As populações de anfíbios provavelmente já ocorriam nessas terras e ficaram isoladas. Algumas se especiaram [viraram espécies diferentes]", explica a pesquisadora.

Isso não significa que os anfíbios não possam viajar pelo litoral até uma ilha. É verdade que a maioria das espécies do grupo parece não tolerar água salgada por causa da pele delicada, mas pesquisas feitas na costa da África sugerem que os bichos podem fazer travessias curtas encarapitados em pedaços de madeira e "jangadas" de vegetação, diz Brasileiro.

Seu Veredas

A lista de novatos da biodiversidade anfíbia é fechada por um bicho bem maior do que as pererecas Scinax. Trata-se de um primo do popular sapo-cururu que ganhou o simpático nome científico de Chaunus veredas. A equipe capitaneada por Reuber Brandão, da Universidade de Brasília (UnB), encontrou o bicho em várias áreas de cerrado nos estados de Minas Gerais, Bahia e Piauí. É exatamente a região que inspirou o romance de Guimarães Rosa, "Grande Sertão: Veredas", e que hoje abriga o Parque Nacional Grande Sertão Veredas -- daí o nome do bicho.

Com até 11 cm de comprimento, o bicho tem entre suas características mais marcantes a forte cor amarela dos machos e a cabeça com poucos protuberâncias duras, se comparada à de seus primos mais próximos. Tudo indica que a espécie é endêmica do cerrado, ou seja, exclusiva desse ecossistema, segundo os pesquisadores.

As ilustrações das espécies você encontra no link: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL107163-5603,00.htmlFonte: G1

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